KUARAHYCORÁ - O Círculo do Sol de Yara Miowa
"(...) ao ser humano é dado o privilégio de se erguer e de
caminhar e, mais ainda, lhe é concedida a dádiva maior: a sua
Fala. Receptáculos de tantas bem-aventuranças, a relação entre
os humanos e seus ancestrais só pode ser de solidariedade e
amor.
Seu avô lhe ensinara que para retribuir tantas dádivas
recebidas, o seu primeiro dever seria depurar a sua fala: esta
é uma tarefa sagrada. Todas as outras, se comparadas, carecem
de relevância. Pois é a expressão verbal que comprova o
pulsar da origem divina. Cada ser é embalado por uma voz só
sua, é dotado de imaginação própria, de modo a poder transitar
em espirais de melodias. Todos sabem na tribo, desde pequenos,
que o Dizer de um ser humano é primordial. (...)"
Maria Lúcia Bicudo
A importância do som, da palavra e da voz na harmonização do ser
" Os sons, a música, as palavras e a voz podem ser
transformadores e criadores, podem dissolver padrões e
hábitos e movimentar o que está estagnado, proporcionando
novos fluxos, desbloqueando, harmonizando e integrando todas as partes do ser. Permite, por fim, que a interação com os outros e com o mundo se realize sem dissonâncias. Iniciaremos falando do corpo humano como território do Sagrado, ou seja, o corpo humano, mais do que um aparato físico e apesar de ser a nossa única realidade perceptível, expressa a nossa inteligência, os nossos sentimentos, as nossas emoções, a nossa alma e o nosso espírito. Expressa também, as nossas
dualidades: fraqueza e força, paciência e impaciência, amor e ódio, etc.
A experiência do corpo é ditada pelo modo como aprendemos a percebê-lo. Mudando a percepção, transformamos a experiência do nosso corpo e a relação com o mundo."
Sociedade e comunicação de massa – Folkcomunicação: a comunicação dos marginalizados de Luiz Beltrão. Cortez editora
pág.3
A comuniccação é o problema fundamental da sociedade contemporânea, que é composta de uma imensa variedade de grupos, que vivem separados uns dos outros pela heterogeneidade de cultura, diferença de origens étnicas e pela própria distância social e espacial. Tais grupos ora estão organizados com uma missão específica, como Estado, Igreja, Sindicato ou Empresa, ora são informais, ligados apenas espiritaualmente por certas idéias filosóficas, interesses gerais e experiências comuns à espécie humana, como nação, crenças, trabalhadores e consumidores.
Somos dos que pensam que, não obstante as características próprias e os conflitos de interesse imediato de cada grupo, há na sociedade, uma unidade mental, decorrente da natureza humana dos seus componentes e de um consenso universal. Os grupos acham-se assim vinculados a uma ordem semelhante de idéias e a um prpósito comum: adquirir sabedoria e experiência, sobrevivência e aperfeiçoamento que só conseguem mediante a comunicação, entendida pelo processo mímico, oral, gráfico, tátil e plástico, pelo qual os seres humanos intercambeiam idéias, informações e sentimentos, através de signos simbólicos.
O que é Poesia? Fernando Paixão
“A capacidade de simbolizar, desde os tempos primitivos, permitiu ao homem movimentar-se no mundo, conviver com os mistérios da vida e se organizar coletivamente. É através dos símbolos que o animal humano inscreve sua presença na natureza e na sociedade.
“ criar e depender daquilo que cria, uma situação idêntica à serpente que se alimenta devorando o próprio rabo” - o fato de darmos nomes às coisas, classificarmos, limitarmos...limita as próprias possibilidades de nos relacionarmos com o que que criamos.
A relação entre simbolização e linguagem é tão íntima a ponto de não se saber o que pode ter surgido primeiro. Se a capacidade do homem de se expressar organizadamente através de códigos e línguas ou se a necessidade de criar símbolos para designar os objetos da realidade.
Homens desenharam as imagens de quadrúpedes nas paredes da caverna com a firme crença de que isso os ajudava na caça desses animais.
Modernamente, a poesia, em quase todas as suas variantes de estilo, reincide sobre um objetivo semelhante, ou seja, investigar o real, aumentar o conhecimento e a vivência do mundo através das palavras.
O homem poético, ao invés de um simples animal simbólico que mantém uma visão estagnada, como é o caso de muitas religões, que oferecem aos seus seguidores uma visão de mundo pronta e acabada, na atividade poética os símbolos transitam de maneira viva, brilhante e efêmera.
A profissão do poeta é armar símbolos, tecer caminhos imáginários sobre a página, oferecer ao seu companheiro de viagem, o leitor ou ouvinte, uma inusitada sensação: a intimidade das palavras, o enredamento caloroso dentro delas.
*Quanto mais constante e diversificado for o nosso contato com o universo poético, mais atento será o nosso olhar para as coisas em volta.
Ler poesia nos ensina a olhar e a sentir. Ao invés de ensinar lições de certezas estáticas, a poesia desperta a vivência dinâmica e sensível do real.
Abre-se para o indivíduo a chave de um maravilhoso poema zen “ as palavras não fazem o homem compreender, é preciso fazer-se homem para entender as palavras”
